Arthur Bispo do Rosário:

a arte de “enlouquecer” os signos

  • Márcio Seligmann-Silva
Palavras-chave: Arthur Bispo do Rosário, Arte e Memória, Colecionismo, Arte e Loucura.

Resumo

O ensaio analisa a obra de Arthur Bispo do Rosário do ponto de vista de sua relação com a história da arte (e da teoria estética) do século XX. O texto observa que desde a “descoberta” da obra de Bispo até hoje predominou a comemoração de seu “gênio” e a comparação de sua obra com a de artistas como Duchamp, Arman, César ou Andy Warhol. Se esta atitude da crítica é justifi cável como parte do processo típico de canonização de artistas – sobretudo levando-se em conta a origem quatro vezes marginal de Bispo (negro, “louco” e pobre, além de pertencente ao “terceiro mundo”) –, por outro lado, esta atitude tem impedido uma aproximação de suas obras que fi cam como que “encobertas” pelas obras dos clássicos da modernidade. O texto propõe um duplo movimento para se entender a importância da obra de Rosário: primeiro é essencial se entender o que ocorreu com o romantismo e sua entronização de uma subjetividade complexa (que inclui uma certa dose de “loucura”) que passou a ser encenada pelo artista ou escritor. Em um segundo momento, ele propõe que devemos aprender a nos distanciar deste clichê romântico para podermos observar as obras de arte de Bispo como genuínas manifestações de novas tendências nas artes plásticas que se desenvolveram sobretudo a partir da metade do século XX.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ADORNO, Th. Ästhetische Theorie. Frankfurt a.M.: Suhrkamp, 1970.

ADORNO, Th. Teoria Estética. Trad. Artur Mourão. Lisboa: Edições 70, 1982.

AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer. O poder soberano e a vida nua I. Belo Horizonte: UFMG, 2002.

ANDERS, Günter. Kafka: pró e contra, os autos do processo. Trad. M. Carone. São Paulo: Perspectiva, 1993.

BARRON, Stephanie (org.). Entartete Kunst. In: Das Schicksal der Avantgarde im Nazi-Deutschland. München: Hirmer, 1992.

BÉGUIN, Albert. L’âme romantique et le rêve. Essai sur le romantisme allemand et la poésie française (Paris, 1946). Paris: Librairie José Corti, 1991.

BENJAMIN, Walter. Gesammelte Schriften. v. IV. Org. por R. Tiedemann und H. Schweppenhäuser. Frankfurt a.M.: Suhrkamp, 1972.

BENJAMIN, Walter. Kritiken und Rezensionen. In: Gesammelte Schriften. Org. por R. Tiedemann und H. Schweppenhäuser. v. III. Frankfurt a.M.: Suhrkamp, 1972a.

BENJAMIN, Walter. Das Passagen-Werk. In: BENJAMIN, Walter. Gesammelte Schriften. Org. por R. Tiedemann und H. Schweppenhäuser. v. V. Frankfurt a.M.: Suhrkamp, 1982.

BENJAMIN, Walter. Rua de mão única. Trad. de R.R. Torres F. e J.C.M. Barbosa. In: Obras escolhidas. v. II. São Paulo: Brasiliense, 1987.

BENJAMIN, Walter. Charles Baudelaire, um lírico no auge do capitalismo. Trad. de J.C.M. Barbosa e H.A. Baptista. In: Obras escolhidas. v. III. São Paulo: Brasiliense. 1989.

DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico e outros Ensaios. Trad. Marina Appenzeller. Campinas: Papirus, 1993.

GONÇALVES, Tatiana Fecchio C. A Legitimação de Trabalhos Plásticos de Pacientes Psiquiátricos: Eixo Rio-São Paulo. Dissertação (Mestrado em Artes) - Instituto de Artes, UNICAMP, Campinas, 2004.

HIDALDO, Luciana. Arthur Bispo do Rosário. O Senhor do Labirinto. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.

KÖHN, Eckhardt. Sammler. In: Benjamins Begriffe. v. II. Org. Michael Opitz e Edmund Wizisla. Frankfurt a.M.: Suhrkamp, 2000. p. 695-724.

MACIEL, Maria Esther. O inventário do mundo: registros sobre a arte de Arthur Bispo do Rosário. In: Palavra e Imagem, Memória e Escritura. Org. por M. Seligmann-Silva. Chapecó: Argos, 2006. p. 289-302.

NOVALIS. Werke. Tagebücher und Briefe. Org. por H.- J. Mähl e R. Samuel. München: Karl Hanser Verlag, 1978. vol. II.

PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica. 2a ed. Trad. José T. Coelho Neto. São Paulo: Perspectiva, 1990.

PEREC, Georges. A coleção particular. São Paulo: Cosacnaify, 2005.

SELIGMANN-SILVA, Márcio. Catástrofe, História e Memória em Walter Benjamin e Chris Marker: a escritura da memória. In: SELIGMANN-SILVA, Márcio. (org.) História, Memória, Literatura. O Testemunho na Era das Catástrofes. Campinas: UNICAMP, 2003. p. 391-417.

SELIGMANN-SILVA, Márcio. Do delicioso horror sublime ao abjeto e à escritura do corpo; Walter Benjamin e os Sistemas de Escritura; Como um raio fixo. Goethe e Winckelmann: o Classicismo e as suas Aporias. In: SELIGMANN-SILVA, Márcio. O local da diferença. Ensaios sobre memória, arte, literatura e tradução. São Paulo: Editora 34, 2005. p. 31-44; 123-140; 252-267.

SELIGMANN-SILVA, Márcio. (org.). Palavra e Imagem, Memória e Escritura. Chapecó: Argos, 2006.

WINCKELMANN, Johann Joachim. Von der Nachahmung der griechischen Werke in der Malerei und Bildhauerkunst. In: Winckelmann, Anton Raphael Mengs e Wilhelm Heinse. Frühklassizismus. Org. por Helmut Pfotenhauer et alii. Frankfurt/Main: Deutsche Klassiker Verlag, 1995.

Publicado
2017-04-25
Seção
Corpo . Estética . Loucura